Lira das penas
Armando Braga
Numa gaiola, toda azul e ouro,
De raro estilo e singular beleza,
Tinha um canário, a pálida Princesa:
— Seu bem-amado e seu maior tesouro…
Às vezes presa de infundado agouro,
Vivia instantes de mortal tristeza;
E então ficava, debruçada à mesa,
a ouvir cantar o seu Caruso louro…
Mas certo dia de um destino vário,
Chora a Princesa a morte do canário
Que fora a vida de seus sonhos ledos!
Como eu te invejo, ó Príncipe Encantado,
Que mais pudesse com cantar teu fado,
Do que eu com a lira a me gemer nos dedos!
Em: Poetas nas Bandas do Mar: uma antologia, ed. João do Prado Maia e outros marinheiros poetas, ed. José Nazar, Rio de Janeiro, Companhia de Freud: 2007, pp: 75-6.
Armando Braga (1883-1969), engenheiro, geógrafo, poeta, músico, escultor, pianista e compositor, teve suas obras (poesia e prosa) publicadas nas revistas Careta, O Malho, entre outras.
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