Sublinhando…

12 06 2022

Lendo na cama

Carolyn Anderson (EUA, contemporânea)

óleo sobre tela

“Chorar por papai passou a ser sua profissão, sua identidade, sua persona. Anos depois, ao refletir sobre a parcela política  no interior da qual havíamos  todos vivido (o marxismo e o Partido Comunista), e ao dar-me conta de que as pessoas que trabalhavam como bombeiros, padeiros ou operadores de máquinas de costura haviam se percebido com pensadores, poetas e eruditos pelo fato de serem membros do Partido Comunista, entendi que mamãe havia assumido sua viuvez de forma bastante semelhante. Sua viuvez a elevava a seus próprios olhos, tornava-a uma pessoa espiritualmente relevante, emprestava riqueza a seu pesar e retórica à sua fala. A morte de papai se transformou numa religião que oferecia cerimônia e doutrina.  Mulher-que-perdeu-o-amor-de-sua-vida passou a ser sua  ortodoxia: a ela, prestava uma atenção talmúdica.”

Em: Afetos ferozes, Vivian Gorick, tradução de Heloísa Jahn, apresentação de Jonathan Lethem, São Paulo, Todavia: 2019, p: 80.


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