Queixas, poesia de Júlia da Costa

6 12 2021

Leitura na varanda, c. 1890

Benjamim Parlagrecco (Itália, 1856- Brasil, 1902)

óleo sobre cartão – 24 x 19 cm

 

 

Queixas

 

Júlia da Costa (1844-1911)

 

 

Outrora, outrora eu amava a vida

Meiga, florida na estação das flores!

Amava o mundo e trajava as galas

Dos matutinos, virginais amores.

 

Que sol, que vida, que alvoradas belas

Por entre murtas eu sonhava então,

Quando ao perfume do rosal florido

Da lua eu via o divinal clarão!

 

Hoje debalde no rumor das festas

Procuro crenças que só tive um dia!

Minh’alma chora e se retrai sozinha,

O pó das lousas a fitar sombria!

 

Embalde, embalde, o bafejo amado

Da morna brisa minhas faces beija!

Meu peito é frio, como é fria a nuvem

Que em noites claras pelo céu adeja!

 

Embalde, embalde, no ruído insano

Das doidas festas eu procuro a vida!

Meu corpo verga… meu alento foge…

Sou como a rosa do tufão batida.

 

Em:  Poesia, de Júlia da Costa,  Org. Zahide Lupinacci Muzart. Curitiba: Imprensa Oficial do Paraná, 2001, p. 270


Ações

Information

Deixe um comentário