Leitura na varanda, c. 1890
Benjamim Parlagrecco (Itália, 1856- Brasil, 1902)
óleo sobre cartão – 24 x 19 cm
Queixas
Júlia da Costa (1844-1911)
Outrora, outrora eu amava a vida
Meiga, florida na estação das flores!
Amava o mundo e trajava as galas
Dos matutinos, virginais amores.
Que sol, que vida, que alvoradas belas
Por entre murtas eu sonhava então,
Quando ao perfume do rosal florido
Da lua eu via o divinal clarão!
Hoje debalde no rumor das festas
Procuro crenças que só tive um dia!
Minh’alma chora e se retrai sozinha,
O pó das lousas a fitar sombria!
Embalde, embalde, o bafejo amado
Da morna brisa minhas faces beija!
Meu peito é frio, como é fria a nuvem
Que em noites claras pelo céu adeja!
Embalde, embalde, no ruído insano
Das doidas festas eu procuro a vida!
Meu corpo verga… meu alento foge…
Sou como a rosa do tufão batida.
Em: Poesia, de Júlia da Costa, Org. Zahide Lupinacci Muzart. Curitiba: Imprensa Oficial do Paraná, 2001, p. 270






