Armadilha noturna
Jack Vettriano (Escócia, 1951)
óleo sobre tela, 40 x 30 cm
Cheguei a me surpreender avaliando em quatro estrelas este livro. É nota alta. Apesar de uma dezena de problemas Os segredos que guardamos de Lara Prescott, traduzido por Alessandra Esteche, tem pontos de interesse que pesam a favor no balanço final. Seguimos duas mulheres: Irina Drozdov, jovem americana, filha de imigrantes russos que inicia a vida profissional, nos anos 50 do século passado, como datilógrafa na CIA e acaba tornando-se agente secreta; e Olga Vsevolodovna Invinskaya, dedicada amante do escritor russo Boris Pasternak, que serviu de musa para Lara, personagem principal do livro Doutor Jivago ao longo dos treze anos em que foram amigos e amantes.
Fluente em russo, Irina chama atenção de seus superiores que a escolhem para trabalhar como agente secreta. Ela é treinada e eventualmente participa de uma operação secreta americana que leva ao publico russo a obra de Pasternak que havia sido proibida pelo governo da União Soviética de ser publicada, pois oferecia ao leitor críticas ao sistema imposto na Rússia sob domínio comunista.
Seguimos a vida de Olga Invinskaya do momento em que vai para prisão por se associar a Pasternak e não ceder ao inquérito governamental sobre o conteúdo do romance que seu amante escrevia. Trabalhos forçados em Gulag por ser presa política dão fim a três anos de sua vida. Na volta para casa, Olga retoma o caso de amor com Boris.

Lara Prescott nos dá uma breve biografia do escritor Boris Pasternak e mostra a importância que essa obra, que eu só conheço pelo cinema, teve para o próprio autor. Acompanhar o caso amoroso que mantém com Olga nem sempre conta a favor de Pasternak, e me lembrou que devemos simplesmente julgar a obra e nunca seu autor. Falta a ele comprometimento para com a mulher amada, mesmo tendo sido Olga a grande paixão de sua vida. Mas, por outro lado, escreveu o livro que o levou ao Prêmio Nobel em 1958, e ao aplauso internacional, mesmo obrigado pelo regime comunista a recusar o prêmio.
Além desses temas há a narrativa de espionagem internacional feita por mulheres, tema que aparece mais assíduo na literatura contemporânea de entretenimento, principalmente depois do best-seller O tempo entre costuras, de Maria Dueñas, que abriu o caminho para outros sucessos. Mantendo-se no campo das novidades: esta é ficção que aborda, levemente, a discriminação contra o homossexualismo na CIA assim como possivelmente nos outros conhecidos serviços de espionagem. como o britânico MI6. Este é o segundo romance que leio este ano que aborda o tema do amor lésbico. Interessante reviravolta na produção literária de vasto consumo.
Lara Prescott
Tive dificuldade de seguir as vozes narrativas de cada capítulo narrado na primeira voz. Nem sempre fica claro na primeira metade do livro cuja vida estamos seguindo. Maior número de situações de espionagem poderia aumentar o interesse na narrativa que se apega demais à biografia de Pasternak.
A leitura é rápida. Pequenos capítulos. Biografia, ação, romance. Surpresas. Poderia ir mais a fundo. Faltou suspense, o tema pedia. Acaba abruptamente como se o interesse da autora fosse cobrir uma única ação de subversão do comunismo através da cultura, como planejara a CIA. Outras ações mencionadas não dão sustância ao tema de espionagem. Como romance histórico deixa a desejar. Finais fechados. Livro pronto para a grande audiência de entretenimento com um aceno aos temas da atualidade.
NOTA: este blog não está associado a qualquer editora ou livraria, não recebe livros nem incentivos para a promoção de livros.





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