Crucificação de São Pedro, c. 1600
Michelangelo Merisi da Caravaggio (Itália, 1571 – 1610)
óleo sobre tela, 230 x 175 cm
Igreja de Santa Maria do Povo, Roma
♦ “Michelangelo Merisi dito il Caravaggio porque nascido em Caravaggio, aldeia da região Bergamasca: aos 16 anos já com a pintura no sangue transfere-se para Roma onde executará obras capitais, a vocação de Mateus na Igreja de San Luigi de Francesi, Paulo a caminho de Damasco e Pedro crucificado, em Santa Maria del Popolo.
♦ De natureza selvagem irreverente anticonformista, prestigiam-no altos senhores, altas putas, eclesiásticos. Divide-se em rixas discussões de rua taverna bordel. Desafia inimigos a duelo, fere, é ferido.
♦ Ataca a rude matéria da vida. Ajudado pela técnica do claro-escuro inventa a pintura objetiva. O povo participa da ação. Cresce o gênio do detalhe. O realismo transpõe os esquemas herdados, adianta-se em concisão e intensidade: Caravaggio fixa as coisas na sua consistência corpórea, torna polêmica a luz, que passa do elemento secundário a protagonista.
♦ É um deus, o deus Caravaggio. Entre seus numerosos descendentes, Velásquez e Rembrandt. Qual dos três o maior? Nenhum; os três são maiores.
♦ Caravaggio durante uma rixa mata à força de espada um certo Ranuncio Tommaso, que só por isto é inaugurado. Temendo a fúria pontificia foge para Malta onde o grão-mestre da ordem, Alof de Wignacourt, recebe-o em fasto e lhe empresta dois escravos para segui-lo. Futuramente aparentado a Rimbaud, apesar da glória Caravaggio permanece inadaptável, feroz, surdo ao diálogo. Tateando no claro-escuro, bêbado seminu sem flores vagueia pela Itália.
♦ Praia de Porto Ercole (Toscana). Contrai malária. Perde os papéis de identidade, a bagagem e as telas que trouxera de Malta. Tendo litigado com o grão-mestre, os esbirros deste desencadeiam a vingança. Ferido, golpeado no rosto, grita em vão por socorro. Apostrofa os cães e suas fezes. Michelangelo Merisi dito il Caravaggio, outrora chama, desespera-se de não poder pintar — escuro demais — o abismo do nada que já desvenda; e — claro de mais — o espaço da própria morte.
Em: Transístor, Murilo Mendes, Rio de Janeiro, Nova Fronteira: 1980, pp. 214-215.





Caravaggio é o melhor!
No filme Moça com Brinco de Pérola, a fotografia remete a Caravaggio, magnífica!
Vermeer tb é mestre da luz, mas Caravaggio é imbatível 👏👏👏👏👏