Cais, poesia de Cid Silveira

13 08 2019

 

 

 

TOZZI, CLAUDIO (1944) Trabalhador Cais Acrílica s tela Ass. e datado 79, cid Ass., titulado e datado 1979, no verso 120 x 120 cmTrabalhadores no Cais, 1979

Cláudio Tozzi (Brasil, 1944)

acrílica sobre tela, 120 x 120 cm

 

 

Cais 

Cid Silveira

 

 

Na faina do porto gemia o guindaste,
jogando no pátio de pedras, de chofre,
a mercadoria pendendo-lhe da haste,
dezenas de sacos de pedra de enxofre.

Os trabalhadores das docas, externos,
não usam camisa, mas faixa na ilharga.
Trabalham nas furnas do pior dos infernos,
porões tenebrosos dos buques de carga.

O ar a empestado, sufoca; dá nojo
o pó amarelo, pesado, que dança
por cima dos homens que arrancam do bojo
do barco esse enxofre que ao porto se lança.

E o porto, ressoante de silvos, é teatro
de cenas medonhas, protestos, clamores!
Mas como o cargueiro sairá logo às quatro,
prossegue o trabalho dos estivadores.

Gaivotas inquietas esvoaçam à tona
das águas oleosas do estuário parado.
E finda o serviço só quando, com a lona,
se cobre o profundo porão esvaziado.

Mas logo no dia seguinte, de novo
começa o trabalho, com pragas e cantos.
É heróica a existência dos homens do povo,
dos trabalhadores das docas de Santos.

(1910)


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