Largo de Santa Cecília, 1960
Durval Pereira (Brasil, 1918- 1984)
óleo sobre tela, 60 x 80 cm
São Paulo
Ribeiro Couto
São Paulo da garoa intermitente,
Da penumbra que às vezes coadjuva
A nostalgia… — Quem, meu Deus, não sente
Um pouco desse ambiente… desta “Chuva”…
A chuva fina molha a paisagem lá fora,
O dia está cinzento e longo… um longo dia!
Tem-se a vaga impressão de que o dia demora…
E a chuva fina continua, fina e fria,
Continua a cair pela tarde, lá fora.
Da saleta fechada em que estamos os dois,
Vê-se, pela vidraça, a paisagem cinzenta:
A chuva fina continua, fina e lenta…
E nós dois em silêncio, um silêncio que aumenta
Se um de nós vai falar e recua depois.
Dentro de nós existe uma tarde mais fria…
Ah! para que falar? Como é suave, brando
O tormento de adivinhar — quem o faria?
As palavras que estão dentro de nós chorando…
Somos como os rosais que, sob a chuva fria,
Estão lá fora no jardim se desfolhando,
Chove dentro de nós… Chove melancolia…
Em: 232 Poetas Paulistas:antologia, ed. e col. Pedro de Alcântara Worms, São Paulo, Conquista: 1968, p. 239-40.