O enterro da cigarra, poesia de Olegário Mariano

25 02 2019

 

 

 

cigarra e formigaIlustração de Milo Winter para as Fábulas de Esopo, 1919.

 

 

O enterro da cigarra

 

Olegário Mariano

 

As formigas levavam-na… Chovia…

Era o fim… Triste outono fumarento!..

Perto, uma fonte, em suave movimento,

cantigas de água trêmula carpia.

 

Quando eu a conheci, ela trazia

na voz um triste e doloroso acento.

Era a cigarra de maior talento,

mais cantadeira desta freguesia.

 

Passa o cortejo entre árvores amigas…

Que tristeza nas folhas… Que tristeza!

Que alegria nos olhos das formigas!…

 

Pobre cigarra! Quando te levavam,

enquanto te chorava a Natureza,

tuas irmãs e tua mãe cantavam. . .