Constantinopla no século VI

3 07 2017

 

 

Constantine_I_Hagia_SophiaImperador Constantino I, cujo reinado foi dos anos 310 a 337, oferece uma representação da cidade de Constantinopla em homenagem à Virgem Maria e Menino Jesus, c. 1000

[Detalhe da entrada sudoeste da antiga basílica de Santa Sofia em Constantinopla, hoje Istambul, Turquia]

Mosaico

Basílica de Santa Sofia

 

 

Uma das coisas que me fascina a respeito das obras do historiador francês Francis Fèvre é a reconstituição imaginária de um ambiente, de uma realidade, que às vezes parece próxima, ainda que ele esteja descrevendo algo que se passou há mais de mil anos. Sua habilidade de usar dados existentes, como historiador que é, e recriar o mundo antigo é inigualável, quer o leiamos em francês ou em tradução para o português. Não é à toa que pertence à Academia Francesa de Letras. Seu livro, Teodora, a imperatriz de Bizâncio, publicado em 1991 (Nova Fronteira), é uma das obra à qual retorno de vez em quando para degustar as descrições de um império surgido há mais de 1.500 anos. Aqui fica um exemplo de sua prosa… estamos no primeiro capítulo. A tradução é de Léa Novaes.

“… As muralhas de Teodósio acompanham a orla da Propôntida e continuam ao longo de um grande vale fluvial, o Corno de Ouro, que contribui para isolar a região rochosa em que está situada a cidade. É um vasto triângulo em que dois lados limitam-se com a água, dando a essa antiga colônia de marinheiros gregos uma vocação portuária. No mesmo nível das ondas da Propôntida, agitadas pelo frio vento do norte, os altos muros de pedra constituem a base de um quadro  impressionante que se espelha na água azulada. Apoiada nas colinas, a cidade imperial ergue casas e palácios em direção ao céu, e a primeira impressão é de uma confusão anárquica. Patamares em diferentes planos sustentam os edifícios e os jardins da cidade, o conjunto formando um relevo ondulado. Nos bairros populares acumulam-se as pequenas construções de habitações pobres. Mas os tetos de madeira e as primeiras cúpulas das igrejas dominam a paisagem urbana. Apesar de sua enorme população, a capital conserva uma presença etérea, diluída na atmosfera inconstante dos confins do Mar Negro. O marinheiro que navega nas grandes barcas que cruzam as águas da Propôntida conhece uma a uma as espessas folhagens dos parques imperiais, que abrem no espaço urbano grandes espaços verdes. Os edifícios do Palácio Sagrado, assim chamado devido à presença de seus habitantes imperiais quase divinizados, assentam-se sobre patamares que se abrem sobre a Propôntida (atual Mar de Mármara) e para o calor do sul. De uma maneira geral, os inúmeros edifícios públicos e religiosos destacam-se nitidamente das ruelas sombrias onde se comprime a população cosmopolita em Constantinopla.”

 

Em: Teodora, a imperatriz de Bizâncio, Francis Fèvre, tradução de Léa Novaes, Rio de Janeiro, Nova Fronteira: 1991, p. 14.

 

 

Mosaïques de l'entrée sud-ouest de Sainte-Sophie (Istanbul, Turquie)Mosaico da antiga Basílica de Santa Sofia em Constantinopla (Istambul, Turquia).

A Virgem Maria no centro segura o Menino Jesus em seu colo. À sua direita o imperador Justiniano I, oferece um modelo da basílica.  À esquerda, o Imperador Constantino apresenta para ela um modelo da cidade.

 

Map_of_Constantinople_(1422)_by_Florentine_cartographer_Cristoforo_BuondelmonteMapa de Constantinopla de 1422 [900 anos após a descrição acima]

Cartógrafo Cristoforo Buondelmonti (Florença, 1386-c. 1430)

Este é o mapa da cidade mais antigo que se conhece e o único que trata de Constantinopla antes da invasão turca em 1453.

Liber insularum Archipelagi (1824), versão na  Bibliothèque nationale de France, Paris