Menino com Máscara, 1973
Reynaldo Fonseca (Brasil, 1925)
óleo sobre tela, 46 x 38 cm
Nós todos temos favoritos: escritores, pintores, poetas, compositores. Sou eclética na leitura e por força da minha profissão sou eclética sobre meus artistas plásticos favoritos. Conhecimento, tenho certeza, leva ao entendimento e muitas vezes à preferência por um artista.

Menino mascarado, 2008
Reynaldo Fonseca (Brasil, 1925)
óleo sobre tela, 70 x 50 cm
O pernambucano Reynaldo Fonseca está entre os meus pintores favoritos. Há calma em suas telas. Há mistério. Mesmo quando pinta personagens sem máscara. Suas imagens são explicitas, claras, não deixam dúvidas sobre o que é retratado. Mesmo assim há mistério. Seus quadros nos convidam a resolver uma charada cujos paradigmas não conhecemos. Ou será que estamos frente a uma parábola? Quem frequenta este blog já conheceu muitas obras de Reynaldo Fonseca. Hoje, por estarmos no meio do Carnaval, concentrei-me naquelas em que a máscara aumenta o enigma.

Mascaradas com gato, 2003
Reynaldo Fonseca (Brasil, 1925)
óleo sobre tela, 60 x 80 cm
Reynaldo Fonseca foi aos onze/doze anos aluno ouvinte na Escola de Belas Artes de Pernambuco, em 1936. Depois, por um breve período, foi aluno de Portinari, tendo estudado anteriormente com Lula Cardoso Ayres. Eventualmente, aos vinte e três anos, em 1948, vai à Europa.

Mulher de vestido vermelho com máscara, 1973
Reynaldo Fonseca (Brasil, 1925)
óleo sobre tela 46 x 38 cm
Seu conhecimento da arte ocidental pode ser sentido. Há um nítido aceno à arte da Renascença Italiana, sobretudo aos pintores do século XV, tais como Antonello da Messina, Giovanni Bellini, Boltraffio, Domenico Ghirlandaio, Filippino Lippi entre outros retratistas, florentinos em sua maioria, trabalhando antes de 1500. Outro detalhe aproxima essas telas da pintura renascentista é a maneira como Reynaldo Fonseca assina seus trabalhos: muitas vezes com monograma com suas iniciais, ou com o nome escrito em grandes maiúsculas como Dürer fazia, bem no centro da tela, ou ainda, numa etiquetas pintada na tela, num rótulo. Desde cedo ele tem a intenção de deixar a sua marca.

Mascarado, 2007
Reynaldo Fonseca (Brasil, 1925)
óleo sobre tela, 60 x 80 cm
Mas o conhecimento dos mestres que o precederam não fica por aí. Seus quadros têm a força dos ícones bizantinos, com segundos planos simples, muitas vezes divididos em duas cores como na tela acima, espremendo visualmente as figuras entre o plano visual do espectador e a parede perceptível mais atrás que não deixa o olhar fugir para outro plano mais distante. As figuras, o que é representado, então, toma característica de importância e nos obriga a dialogar com o que vemos.

Mulheres de máscaras e leque, 2006
Reynaldo Fonseca (Brasil, 1925)
óleo sobre tela, 80 x 60 cm
Mesmo quando há uma janela ou uma porta no segundo plano como na tela acima, ela ou é fechada por uma parede mais além ou é em grande parte ocupada por um personagem olhando para dentro, ou retorna o nosso olhar, olho no olho. Além do pequeno campo de visão atingido através dessa maneira icônica de pintar, a palheta reduzida a tons de terra, e dourados, com o uso de branco, vermelho ou negro, em cores sólidas, para contraste, auxiliam na lembrança dos ícones bizantinos.

Família, 2000
Reynaldo Fonseca (Brasil, 1925)
óleo sobre tela
Poucas são as telas com muitos personagens como acima. Elas aparecem com maior frequência nas últimas décadas dessa longa carreira do artista e em geral representam uma família ou membros de uma família. Mesmo nesse caso continuamos a sentir sua impenetrabilidade. As pessoas parecem não se comunicar, ou fazê-lo de maneira comedida, silenciosa, circunspecta, como se participassem de um ritual sacramentário que nos elude.

Flautista mascarado, 1970
Reynaldo Fonseca (Brasil, 1925)
óleo sobre tela, 73 x 50 cm
Mesmo os muitos personagem retratados sós, como o flautista mascarado acima, nos parecem impenetráveis ainda que façam algo que conheçamos, como tocar um instrumento musical, brincar com um pássaro; ou uma criança brincar com um velocípede, correr pela rua com um aro, fazer o dever de casa, caderno na mesa e lápis em punho. Essas cenas que poderiam facilmente serem chamadas de pintura de gênero, ganham peso e importância, pela solenidade com que são apresentadas. E pela solidez, massa mesmo, de seus personagens.
Menina flautista, 1996
Reynaldo Fonseca (Brasil, 1925)
óleo sobre placa de madeira industrializada, 55 x 33 cm
A forma dos corpos retratados por Reynaldo Fonseca parece baseada em alguma equação matemática, em princípios geométricos que nos escapam. Essa técnica lembra a dedicação que Piero della Francesca tinha à geometria, lá nos idos do século XV. Enquanto que a solidez das formas cilíndricas, dos círculos e meios círculos, tem precedência na arte brasileira de outro pernambucano, Vicente do Rego Monteiro, o grande pintor cubista brasileiro.

Menino com máscara, 1971
Reynaldo Fonseca (Brasil, 1925)
óleo sobre tela, 73 x 50 cm
A tendência de reduzir formas naturais a geométricas convive bem com outros tipos de abstração na arte contemporânea. Temos pintores como Inos Corradin que levaram essa maneira a um extremo, passando antes por Aldemir Martins entre outros. Fora do Brasil, também contemporâneo há o pintor colombiano Botero.

O pequeno mascarado, 1976
Reynaldo Fonseca (Brasil, 1925)
óleo sobre placa, 22 x 16 cm
O retrato de seus personagens-esfinge vem desde o final dos anos 60 em suas obras, mas nessas primeiras décadas, ainda havia um jardim ao fundo, vegetação e céus azuis como nos primeiros retratos renascentistas, como no retrato do menino mascarado acima de 1976, ou no que abriu esta postagem, do menino de 1973. A perda de espaço visual entre a superfície da tela e o fundo, tornando cada tela num verdadeiro ícone, foi sendo estabelecida aos poucos ´durante a década de 1970.
Caminhantes, 1969
Reynaldo Fonseca (Brasil, 1925)
óleo sobre tela
Coleção Gilberto Chateaubriand
A obra de Reynaldo Fonseca merece um estudo detalhado. Ele é um dos nossos grandes pintores do século XX. Não se deixou influenciar por modismos. Traçou seu caminho e não se desviou. Criou uma linguagem própria e seu próprio espaço. Tem muitos discípulos que aos poucos trabalham seus próprios caminhos. Sua influência é clara e tenho certeza que será marcante no futuro. Obras como as dele não morrem. Estão sempre refletindo nossos próprios segredos, elas nos lembram daquilo que não conseguimos entender mas sabemos existir. Reynaldo Fonseca nos presenteia com um misto de metafísica e surrealismo, numa linguagem autêntica, própria a ele mesmo e nos toca porque sabemos que ele também perscruta o universo à procura das respostas do mundo que lhe fogem.

Figura com máscara e cachorrinho, 1970
Reynaldo Fonseca (Brasil, 1925)
.óleo sobre tela, 100 x 73 cm
Mulher com máscara e leque, 2009
Reynaldo Fonseca (Brasil, 1925)
óleo sobre tela, 80 x 60 cm

Figura feminina com máscara, 2002
Reynaldo Fonseca (Brasil, 1925)
pastel sobre papel, 70 x 50 cm

Mulher com máscara
Reynaldo Fonseca (Brasil, 1925)
óleo sobre papel, 70 x 50 cm

Homem mascarado, 1972
Reynaldo Fonseca (Brasil, 1925)
óleo sobre placa de madeira industrializada, 16 x 22 cm

Mãe e filha mascarada com espelho, 1997
Reynaldo Fonseca (Brasil, 1925)
óleo sobre tela, 101 x 82 cm





