–
–
Romance, ilustração de John Gannon.
–
Louise Bourgeois (EUA, 1911-2010)
Aço inoxidável, bronze e mármore, 9 x 8 x 10 m
National Gallery of Art, Ontário
Olegário Mariano
Toda manhã, ao sol, cabelo ao vento,
Ouvindo a água da fonte que murmura,
Rego as minhas roseiras com ternura
Que água lhes dando, dou-lhes força e alento.
Cada uma tem um suave movimento
Quando a chamar minha atenção procura.
E mal desabrochada na espessura,
Mandam-me um gesto de agradecimento.
Se cultivei amores às mancheias,
Culpa não cabe às minhas mãos piedosas
Que ele passassem para mãos alheias.
Hoje, esquecendo ingratidões mesquinhas,
Alimento a ilusão de que essas rosas,
Ao menos essas rosas, sejam minhas.
Em: Toda uma vida de poesia — poesias completas, Olegário Mariano, Rio de Janeiro, José Olympio: 1957, volume 2 (1932-1955), p. 597.
Albano Vitturi (Itália, 1888-1968)
óleo sobre tela, 75 x 80 cm
Coleção Particular
Nas férias, ao chegar do colégio, onde estivera interno todo o ano, o Eduardo andava à espreita de uma oportunidade para mostrar aos pais quanta cousa aprendera. Ao jantar, chegou-lhe, enfim, o ensejo. Papai e mamãe iam ficar deslumbrados com a sua sapiência.
— “Papai, aí, nesse prato a sua frente, quantos croquetes pensa o Sr. ver? Dois não é assim?
— Nem mais nem menos: isso mesmo, respondeu o pai.
— Pois eu vou provar ao Sr. que são três. Aqui está um; aqui estão dois. 2 + 1 são 3. Logo… há três croquetes no prato.
— Mas onde estava eu com os olhos?! Perfeitamente são três croquetes. Vejo-os agora. Com que clareza você demonstra! Que grande matemático você vai dar! Você merece uma recompensa. Vamos repartir os croquetes. Quinoca ficará com o primeiro, porque é a mamãe; eu ficarei com o segundo, porque sou o papai; e você, Eduardo, ficará com o terceiro inteirinho, porque foi você quem o achou.
[Exemplo de narrativa com conversação]
Em: Flor do Lácio, [antologia] Cleófano Lopes de Oliveira, São Paulo, Saraiva: 1964; 7ª edição. (Explicação de textos e Guia de Composição Literária para uso dos cursos normais e secundário) p. 227.
Theodoro Jeronymo Rodrigues de Moraes (Brasil, 1877-1956)Professor paulista. Formado pela Escola Normal Secundária de São Paulo, em 1906.
Obras:
A leitura analítica, 1909
Como ensinar leitura e linguagem nos diversos anos do curso preliminar, 1911
Meu livro: primeiras leituras de acordo com o método analítico, 1909
Meu livro: segundas leituras de acordo com o método analítico, 1910
Cartilha do operário: para o ensino da leitura…, 1918 e 1924
Sei ler: leituras intermediárias, 1928
Sei ler: primeiro livro, 1928
Sei ler: segundo livro , 1930
Malie Baehr (Holanda, contemporânea)
óleos sobre tela, 35 x 30 cm
Leonardo da Vinci (1452-1519) — ???
óleo sobre tela, 61 x 46,5 cm
O Retrato de Isabella d’Este, atribuído a Leonardo Da Vinci, foi recuperado em Lugano, na Suíça como resultado de uma complexa operação conjunta envolvendo o Ministério Público italiano em Pesaro, a Guardia di Finanza de Pesaro, e a Brigada de Tutela del Patrimonio Culturale em cooperação com autoridades suíças policiais que executaram um pedido de apreensão para a assistência judiciária internacional. A investigação desse caso começou em agosto de 2013, quando veio ao conhecimento de investigadores italianos que um advogado em Pesaro havia sido contratado para vender sem alarde, a pintura, que se encontrava em um cofre de um banco suíço, pertencente a uma família italiana. O preço: 95 milhões de euros. O retrato pertenceria a uma coleção particular de 400 obras, de propriedade de uma família italiana que pediu para não ser identificada. O Retrato de Isabella d’Este foi provavelmente comprado pelos avós dos atuais proprietários, dizem eles que há mais de um século. As suspeitas de que a pintura possa ser um genuíno da Vinci levaram à investigação científica.
O retrato criou uma celeuma internacional anterior quando o professor Carlo Pedretti da Universidade da Califórnia, Los Angeles (UCLA), especialista na obra do pintor renascentista Leonardo da Vinci, atribuiu o quadro ao pintor. Dr. Pedretti reconheceu na pintura o esboço desenhado por Da Vinci por volta de 1449-1450. O desenho a giz retrata Isabella d’Este, Marquesa de Mântua, [Museu do Louvre, Paris]. Há, no entanto, uma grande incógnita a respeito: historiadores de arte têm debatido desde sempre se Leonardo de fato nunca pintou o retrato para o qual há o esboço. O mistério de 500 anos poderá ser solucionado com o quadro no banco suíço.
Desenho a giz no Louvre e o quadro encontrado na Suíça.
Estima-se que Leonardo o tenha pintado a caminho de Veneza, vindo de Mântua, no final de 1499, quando o exército francês sitiou Milão. Leonardo da Vinci se juntou a todos os que fugiram da cidade. Em seu caminho para Veneza, o artista encontrou refúgio na cidade italiana de Mântua, centro político e artístico da Lombardia. Era convidado da nobre Isabella d’Este.
O especialista na Renascença Italiana e em Leonardo da Vinci especificamente, Dr. Martin Kemp, professor emérito de história da arte no Trinity College, Oxford, questionou a autenticidade da tela. Ele acredita que “não era o tipo de tela usada por Leonardo ou qualquer um de seu ateliê”.
Se a autenticação da pintura for correta, será uma descoberta histórica. Há no mundo só vinte-três grandes obras de arte atribuídas a Leonardo da Vinci. Sua preferência para suporte na pintura foi sempre a madeira, preferencialmente álamo ou o papel. No entanto, independentemente da atribuição, parece que a pintura foi exportada ilegalmente da Itália sem o benefício de uma licença de exportação apropriada e enquanto não está claro se a família enviou a pintura para a Suíça, para evitar roubo ou evasão de impostos, a sua remoção viola a lei italiana.
A Itália tem regras bem rígidas que exige que qualquer obra de arte com mais de 50 anos de idade, feitas por um artista morto, precise de uma licença especial para ser exportada. Isso vale para mudanças temporárias, (no caso de empréstimos para exposições, por exemplo) bem como vendas permanentes. Isso torna a falta de documentação sobre esta obra notável e altamente suspeita. A lei italiana sobre o movimento de obras de arte foi aprovada em 1939 especificamente para prevenir que obras-primas da arte antiga e renascentista saíssem ou cruzassem as fronteiras do país.
Retrato de mulher, provavelmente Isabella d’Este, c. 1500
Atribuído a Gian Cristoforo Romano (c. 1465-1512)
Terracota, [já foi policromada, mas perdeu a cor]
54 x 56 cm
Kimbell Art Museum, Fort Worth, Texas
Na Itália, o óleo de Isabella d’Este passará por uma avaliação mais aprofundada para determinar se o trabalho deve ou não ser confirmado, de forma conclusiva, como tendo a autoria de Leonardo da Vinci. Se não foi, será considerada uma obra “no estilo de”. A pintura, que mede 61 x 46,5 cm, certamente corresponde ao esboço de giz sobre papel da Marquesa de Mântua, no Louvre.
Sabe-se que Isabella d’Este escreveu duas cartas a Leonardo, em que solicitava obras de arte. Mas em ambas ela pedia o retrato de Jesus Cristo. Ela era uma colecionadora de antiguidades, uma patrona das artes, e uma das mulheres mais elegantes e poderosas do Renascimento italiano. Comissionou trabalhos a diversos outros pintores: Giovanni Bellini, Rafael, Ticiano. Portanto, não seria improvável que um pedido de um retrato também pudesse ter sido feito a Leonardo.
Datação por carbono realizada por um laboratório de espectrometria de massa na Universidade de Arizona confirmou que havia uma probabilidade de 95,4% que a obra tenha sido pintada entre 1460 e 1650. O exame de fragmentos retirados do trabalho mostrou que os pigmentos do retrato coincidem com aqueles usados por da Vinci e que a base foi preparada de acordo com a mesma receita detalhada pelo mestre.
Suspeita-se que da Vinci possa ter concluído o retrato depois de encontrar d’Este novamente em Roma, em 1514. O retrato de colorido muito rico mostra uma transposição fiel do esboço no Louvre. A postura da senhora retratada, seu penteado e vestido são quase idênticos. Ela traz o sorriso enigmático que perdura nos lábios conhecido nas obras de da Vinci, como a Mona Lisa. A tiara dourada na cabeça de Isabella d’Este e a folha de palmeira ela segura como um cetro são detalhes não encontrados no esboço e podem ter sido adicionados por alunos de da Vinci.