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Pamela Chatterton-Purdy (EUA, contemporânea)
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O mais recente número da revista New Republic, traz o interessante artigo The New Essayists or the decline of a form, por Adam Kirsch. Ele demonstra que a morte do ensaio literário, diferente do que se presumia há quase 30 anos, não chegou a existir e que hoje o ensaio está mais vivo do que se poderia esperar. Há um número significativo de volumes de ensaios chegando às listas de mais vendidos. Algo muito maior do que o sonhado em passado recente. O assunto me interessa porque o ensaio é uma das minhas formas favoritas de leitura e muito já desejei, quando adolescente, pensando que me caberia um espaço nas artes literárias, que esta seria a minha forma de expressão. Desde os Ensaios de Montaigne, aos de Emerson, aos de Gore Vidal, para dar exemplos genéricos e universais, considero o ensaio como uma forma literária agradabilíssima, em que podemos seguir a maneira de pensar do autor, apreciar seus argumentos e além disso apreciar o estilo e a perspicácia com que um argumento seduz o leitor. Nem sempre é necessário que se concorde com o autor. Um bom ensaísta pode ser apreciado pelo método e pela arte literária mesmo que se discorde do conteúdo.
Adam Kirsch lembra, no entanto, que o ensaio mudou de cara. Ele considera quatro livros publicados nos Estados Unidos e descobre que o conceito que tivemos de ensaio já não se aplica. O ensaio ao que tudo indica passou a ser uma performance e não uma reflexão do autor. Passou a ser uma crônica, um causo de ficção, deixando para trás aquilo que percebemos no verdadeiro, ou melhor na antiga concepção do ensaio, que é a opinião do autor, que a justifica pelo uso de suas associações, pelo uso de suas convicções. O ensaio atual não passa de uma meta linguagem, em que o autor cria um personagem que por sua vez é quem considera diversos aspectos culturais. Como se Dona Candoca, alterego do colunista Artur Xexeo, com o qual ele expressa opiniões nem sempre das mais eruditas, fosse na verdade a personagem que pensasse e organizasse uma linha de pensamentos e os defendesse. É o eu de ficção que agora toma o lugar do pensador. Lembra também que os detalhes do dia a dia do personagem inventado são agora o assunto pelo qual percebemos e debatemos o mundo. É o reality-show do eu ficcionalizado. É o tele-ensaio. Pena. Para onde foram os pensadores? Levante-se, por favor, o verdadeiro pensador.
PERGUNTA: Qual é o seu ensaísta brasileiro favorito?
Ah, sim, o meu? Provavelmente Gilberto Freyre, mas é difícil dizer. Ledo Ivo está muito próximo dele.





