Leitura no front

6 01 2013

5917-Books-SoldiersFotografia da Biblioteca Nacional da Escócia, ilustrando o artigo mencionado.

Ando fascinada com as pesquisas sobre os hábitos de leitura do passado: é aí que a historiadora em mim se revela.  Como todos sabem dedico boa parte do meu tempo na leitura de diários, notas, memórias, preferencialmente de pessoas comuns de tempos passados.  A pesquisa sobe os hábitos das pessoas de gerações passadas recebeu grande impulso nos últimos 50 anos culminando recentemente, para o leitor não especialista, na coleção História da Vida Privada.

A descoberta dos hábitos e costumes do passado nos ajuda a entender a seleção natural através dos séculos que definem muitos dos paradigmas da sociedade  atual.  Nossa maneira de ser, de considerar o que é importante para o grupo social, vem sendo filtrado pelas gerações que nos precederam.  Foram essas pessoas que desconhecemos, nossos antepassados remotos, que escolheram o que deveria ser considerado importante, essencial, em termos sociais, relogiosos, políticos.  Com suas escolhas elas deixaram o lastro cultural no qual a nossa visão de nós mesmos se baseia.

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Fotografia: soldados da Nova Zelândia com uma cópia do New Zealand at the front, 1917.  Alexander Turnbull Library.

O fascinante estudo do que líamos no passado está em pleno andamento como mostrou Jennifer Howard, no artigo Secret Reading Lives, já mencionado no blog anteriormente. A lista de publicações e de referâncias sobre os hábitos de leitura de outros tempos, aumenta a cada dia e a Reading Experience Database — RED, mostra como a internet, na Inglaterra, um país que sempre teve interesse pela sua própria história, pode auxiliar no levantamento das riquezas do passado.  O RED é uma fonte de material de primeira mão, de cartas, diários, livros de poesias favoritas, selecionadas por pessoas comuns, um hábito bastante popular durante o século XIX.  O RED, poderia muito bem dar exemplo e incentivar iniciativas semelhantes, em países como o Brasil que tanto necessita de pesquisadores e de novas visões sobre uma história tão mal contada, empobrecida por mais de 500 anos, de descaso.

Um dos exemplos curiosos ilustrando o artigo na revista The Chronicle of Higher Education é a descoberta de que a leitura feita na linha de batalha, por soldados engajados na 1ª Guerra Mundial, diferente do que se preconizava, não era leitura de panfletos propagandísticos ou políticos, mas que a leitura mais procurada era a de jornais de suas cidades natais, prosaicas lembranças, escapistas, de uma vida mais mansa, romântica, idealizada.  São detalhes como esses que podem nos oferecer uma ideia do que se passava no início do século XX;  como a guerra foi conduzida e por quem; mas muito mais que isso: o comportamento de seres humanos em períodos de grande estresse.  Pesquisa enriquecedora que levanta um espelho para o nosso comportamento emocional e para a herança deixada por esses que viveram cinco, seis gerações antes da nossa.  Fascinante.


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